A Compuworks apresentou o IT Future Trends 2035, um estudo desenvolvido em exclusivo para o mercado português, que identifica os grandes desafios e prioridades da tecnologia nas próximas décadas.
O trabalho contou com múltiplos contributos de líderes de IT nacionais e aborda temas como geopolítica, cibersegurança, inteligência artificial, sustentabilidade, modelos de trabalho e papel estratégico da área de IT nas empresas.
Entre as conclusões mais relevantes destacam-se a perceção generalizada de vulnerabilidade a ciberataques, a valorização crescente da inteligência artificial, a centralidade da sustentabilidade e neutralidade carbónica na escolha de parceiros tecnológicos e a expectativa de que a área de IT passe a ocupar uma posição cada vez mais estratégica no negócio.
“Este estudo foi pensado para Portugal e para os decisores portugueses. Mais do que seguir tendências globais, quisemos olhar para a nossa realidade e perceber onde estamos preparados e onde temos de acelerar. O futuro da tecnologia em Portugal depende da forma como transformamos conhecimento em ação”, diz Ricardo Teixeira, CEO da Compuworks.
Geopolítica e soberania digital
O estudo revela que, embora a Europa ambicione afirmar-se como potência tecnológica, os líderes portugueses acreditam que o continente enfrenta limitações estruturais de escala que dificultam a sua capacidade de competir com os Estados Unidos e a China. Esta visão crítica traduz-se num forte ceticismo em relação ao discurso oficial europeu sobre “soberania digital”: apenas uma minoria acredita que a Europa terá condições para assumir a liderança global até 2035.
- 74% consideram que a ciberdefesa europeia será decisiva para garantir soberania digital.
- 68% acreditam que a cooperação internacional será essencial.
- Apenas 12% confiam que a Europa conseguirá atingir liderança tecnológica até 2035.
- 92% da infraestrutura de cloud da Europa é controlada por empresas dos EUA.
- 80% dos semicondutores usados na Europa vêm de fora da União Europeia.
- As 5 maiores empresas americanas investem mais em P&D do que todos os 27 países da União Europeia juntos.
Contexto português e maturidade empresarial
Apesar de existir talento e ambição, Portugal continua a enfrentar barreiras estruturais que condicionam a sua competitividade tecnológica. O estudo mostra que a escala reduzida do mercado, o subinvestimento em inovação, a baixa maturidade digital das empresas e as dificuldades em recrutar e reter talento especializado são entraves centrais à transformação digital. Estes fatores, somados à dependência de tecnologias externas e à pressão regulatória, fazem com que a transformação digital seja vista como inevitável, mas ainda mais lenta do que seria desejável para acompanhar o ritmo internacional.
Indicadores principais:
- Especialistas em TIC representam apenas 5,2% do emprego em Portugal.
- Apenas 22,7% dos especialistas em TIC são mulheres, revelando desequilíbrio de género.
- 56% da população portuguesa tinha apenas competências digitais básicas em 2023.
- 57,5% das empresas da UE reportam dificuldades em recrutar todos os profissionais de TIC necessários — desafio que se reflete fortemente também em Portugal.
- Portugal dedica 21% do PRR ao digital (€4,5 mil milhões) e 11% dos fundos de coesão (€2,4 mil milhões), reforçando o esforço de investimento público.
Cibersegurança
A cibersegurança surge como uma das áreas mais críticas e sensíveis identificadas no estudo. A perceção de vulnerabilidade é elevada: a maioria dos líderes acredita que as empresas nacionais irão sofrer ataques materiais nos próximos anos e reconhece que não estão preparadas para responder.
Apesar do aumento de consciência e da adoção inicial de soluções avançadas como XDR ou Zero Trust Architecture, a maturidade ainda está longe de ser suficiente.
Regulamentos como a NIS2 e o DORA são vistos como fatores decisivos para acelerar esta transição. Mais do que uma questão técnica, a cibersegurança é já entendida como fator de continuidade do negócio e de sobrevivência das organizações.
Indicadores principais:
- 76% dos líderes acreditam que a sua organização poderá sofrer um ciberataque material até 2035.
- 58% admitem não estar preparados para responder eficazmente a um incidente.
- 67% já sofreram perdas materiais de dados no último ano.
- 92% atribuíram parte dessas perdas a ameaças internas.
- 64% reconhecem que a sua organização estaria disposta a pagar um resgate em caso de ataque.
- 3,12% das empresas portuguesas reportaram indisponibilidade por ataques em 2024 (UE: 3,43%).
- 95,6% das empresas já adotaram alguma medida de segurança digital.
- 50% nunca implementaram XDR ou Zero Trust; apenas 27% já implementaram ambas.
- 83,15% defendem investir em IA para reforçar a cibersegurança.
Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial é apontada como uma das áreas com maior impacto até 2035, mas o estudo mostra uma realidade ambivalente: muitas empresas já estão a experimentar ou a considerar a adoção, mas a maturidade ainda é incipiente.
A perceção é clara: a IA vai transformar métodos de trabalho e processos de negócio, mas persistem dúvidas sobre capacitação, cultura empresarial e formação necessárias para garantir uma adoção eficaz.
Portugal é visto como tendo talento e potencial, mas também o risco de se manter como “follower” caso não invista rapidamente em competências e aplicações concretas.
Indicadores principais:
- 55% das empresas já estão a desenvolver ou a considerar soluções de IA.
- 47% referem geração automática de código como área prioritária.
- 42% estão a apostar em ferramentas de monitorização e administração de sistemas.
- 62% dos líderes acreditam que a IA terá um impacto profundo nos métodos de trabalho até 2035.
- 38% referem a falta de competências e cultura organizacional como o maior entrave à adoção plena.
Modelos de trabalho e competências
O futuro do trabalho em Portugal será marcado pela consolidação do modelo híbrido, combinando presença física e trabalho remoto.
Os líderes acreditam que este será o formato dominante até 2035, permitindo às empresas conjugar flexibilidade, eficiência e retenção de talento.
O estudo mostra ainda que o papel do profissional de IT está a evoluir: mais do que executar tarefas técnicas, será chamado a ter uma visão holística do negócio, capacidade de comunicar e de liderar processos de mudança. A formação contínua e a adaptação do sistema de ensino serão determinantes para preparar estas competências.
Indicadores principais:
- 69% acreditam que o modelo híbrido será predominante em 2035.
- 72% indicam a cibersegurança como competência mais valorizada nos profissionais de IT até 2035.
- 68% destacam a inteligência artificial como competência crítica.
- 64% referem a visão estratégica como diferenciador essencial.
- 58% apontam a capacidade de adaptação como característica central para o futuro.
Infraestruturas e cloud
As infraestruturas tecnológicas continuam a ser vistas como um pilar da transformação digital em Portugal, mas o estudo mostra uma perceção clara: o maior risco está na inércia. Não inovar é considerado mais perigoso do que avançar rapidamente e correr riscos.
A cloud é já uma realidade estabelecida, mas é entendida como etapa de transição, não como destino final. Os líderes acreditam que novas revoluções tecnológicas vão suceder-lhe até 2035, exigindo das empresas uma constante capacidade de adaptação.
O estudo sublinha ainda a importância da resiliência das infraestruturas como garantia de continuidade do negócio, sobretudo em cenários de crise. A integração de cloud, edge e 5G é apontada como tendência inevitável até 2035, enquanto a pressão dos custos energéticos coloca novos desafios de eficiência e sustentabilidade.
Indicadores principais:
- 66% consideram que o maior risco está em não inovar, mais do que em inovar depressa demais.
- 54% acreditam que a cloud é apenas uma etapa, que será sucedida por novas revoluções tecnológicas.
- 49% já implementaram soluções como Zero Trust Architecture ou XDR.
- 32,3% das empresas portuguesas utilizavam cloud em 2023.
- 68,87% preferem o modelo híbrido (cloud + on-premises).
- 71,7% veem o multi-cloud como estratégico para resiliência.
- 47,19% apontam a ciber-resiliência como maior desafio.
- 43,82% acreditam que a cloud híbrida com edge computing será o modelo dominante em 2035.
Sustentabilidade e ESG
A sustentabilidade deixou de ser apenas uma preocupação reputacional e passou a ser um fator estratégico na escolha de parceiros tecnológicos. Os líderes portugueses reconhecem que a transição para uma economia digital neutra em carbono é inevitável e apontam a eficiência energética e os objetivos de neutralidade dos data centers como prioridades centrais.
A pressão regulatória europeia, em particular a meta da União Europeia de atingir a neutralidade carbónica até 2050, está a acelerar esta transformação.
Os custos energéticos crescentes são vistos como um dos principais riscos para o setor, mas também como oportunidade para inovação: cloud verde, otimização de hardware e integração de energias renováveis surgem como caminhos inevitáveis para reduzir a pegada carbónica. Mais do que cumprimento regulatório, a sustentabilidade é já entendida pelos líderes como uma vantagem competitiva e diferenciadora no mercado.
Indicadores principais:
- 71% consideram os objetivos de neutralidade carbónica dos data centers como fator decisivo na seleção de parceiros tecnológicos.
- 68% acreditam que as infraestruturas digitais terão de evoluir significativamente em eficiência energética até 2035.
- 74% valorizam a integração de políticas ESG como elemento crítico na estratégia de IT.
- 29,89% esperam que data centers carbono neutro sejam o padrão até 2035.
- 85% concordam que a procura crescente por data centers impõe desafios de neutralidade carbónica.
- O dano médio anual provocado por fenómenos climáticos já ultrapassa €15,9 mil milhões.
Papel estratégico da área de IT
O estudo mostra uma mudança clara na forma como os líderes veem a função tecnológica dentro das organizações. O IT deixa de ser apenas suporte operacional para assumir um papel central na definição da estratégia empresarial.
A área tecnológica é chamada a ser núcleo de inovação, eficiência e diferenciação competitiva, aproximando-se cada vez mais da gestão de topo.
Este reposicionamento implica também maior exigência sobre os CIOs e responsáveis tecnológicos, que deixam de ser apenas gestores de sistemas para se tornarem líderes estratégicos, com capacidade de influenciar decisões de negócio, falar a linguagem da gestão e liderar equipas multidisciplinares.
Para as empresas portuguesas, significa uma verdadeira mudança cultural: deixar de ver o IT como custo e passar a encará-lo como investimento que gera valor.
Indicadores principais:
- 64% acreditam que o IT será posicionado como área estratégica até 2035.
- Apenas 18% consideram que continuará a ser visto sobretudo como função de suporte.
Nota metodológica
O IT Future Trends 2035 é um estudo promovido pela Compuworks e desenvolvido em exclusivo para o mercado português. Resulta da análise de questionários e entrevistas a dezenas de líderes de IT em empresas nacionais, com contributos recolhidos ao longo de 2025.
O estudo abrangeu áreas como geopolítica, soberania digital, cibersegurança, inteligência artificial, modelos de trabalho, infraestruturas, sustentabilidade e papel estratégico do IT.